11.9.12

Três feijões, nenhuma receita, o tempo, a leveza e a tontice da previdência.

Ultimamente tenho-me confrontado bastante com exemplos que exploram a natureza do homem em querer planear as coisas, ser previdente e tomar todo o tipo de precauções que o levam a crer ter o futuro mais assegurado. É curiosa esta atitude quase estúpida (louca, diria o Einstein) de continuarmos a ter os mesmos comportamentos para que nos tragam algo quando a História já por muitas muitas vezes demonstrou que não é isso que acontece. É uma tontice. É um paradoxo em que, se por um lado somos seres empíricos, acreditando que a experiência leva ao conhecimento e geralmente considerando os mais sábios como os mais experientes e os tomamos como referência, por outro lado seguimos-la - a experiência - cegamente para o bem e para o mal, e ignoramos precisamente aquelas que não podemos ou queremos passar do particular para o geral. Fazemos isso porque o que não planeamos, o que é fruto do acaso ou aquilo que não apreendemos sequer enquanto experiência, acaba por ocupar uma esmagadora parte da nossa vida e temos demasiado medo de nos deixarmos à confiança do inesperado. Tal como Jacques (o de Diderot) diz, a prudência não nos dá garantias de nada a não ser o consolo de que não fomos imprudentes e desculpa-nos dos maus resultados.

Sinto leveza e sensação de missão cumprida, livre para poder dedicar a minha mente ao que lhe apetece, num equilíbrio perfeito entre o que puxa à emoção e o que puxa à razão, entre o necessário e o supérfluo, sem pensar que devia estar a fazer outra coisa. Isso, e o ter tempo são as premissas fundamentais para saborear a vida, porque no fundo é dela que se trata, quer esteja a passar roupa a ferro ou a dar uma caminhada entre a terra e o céu, em Sintra. E maior é o alívio quando compreendo que essa falta de disponibilidade para saborear muitas coisas, de clareza de ideias e de leveza geral, que tanta ansiedade e frustração me causa, deve-se na verdade a essa coisa tão simples e tão matreira que é o tempo. Te-lo nas mãos e não saber o que fazer com ele. Ando, andamos e sempre vamos andar, uns com mais sucesso que outros, com o tempo nas mãos como uma massa de moldar. E é assim, não me apetece prolongar mais a metáfora.

umdoistrêsquatro
um_ Quando eu pensava que sofria de um mal sem nome, afinal ele existe e já escreveram sobre ele.
dois_ É esta uma das minhas ambições, tantas vezes lida e descrita por escritores que me são tão queridos 1 - 23, que é ter a disponibilidade imensa para ver os outros, ser empática, ter um vislumbre de beleza em tudo que encontre.
três_ Não ver mais filmes com o Ryan Gosling antes de dormir.
quatro_ Directo, Completo, Reflectido. Com muito prazer e um muito obrigada.


Cada vez mais tenho sentido a vontade de simplesmente postar aqui umas fotos bonitas e uma breve descrição da coisa. A receita ocupa tempo e paciência e o que eu posso mostrar aqui é o prazer gastronómico que tenho a comer estas coisas. Quantidades e modos de confecção deixo para outros que fazem melhor essa tarefa.

Ultimamente tem sido feijão, pão e queijo.
Para hoje será o feijão. Brevemente o queijo. O pão é sempre.




Grelhei meia beringela pequena até ficar completamente mole e bem marcada e depois esmaguei-a com um garfo juntamente com um dente de alho, uma mão cheia de feijão branco cozido, umas folhas de manjericão frescas, sal, pimenta e um fio de azeite, claro.




Salada de feijão vermelho com aipo - talo e folhas aproveitadas, um bom ramo de salsa picada, nozes tostadas e um molho rápido de parmesão fresco ralado, azeite e limão, inspirado aqui.




Branqueei um molho de feijão verde lindo (na primeira foto dá para ver que não eram bem verdes, mas mudam de cor com o calor) e depois salteei num pouco de óleo com seitan cortado aos pedaços e por fim envolvi num molho rápido de leite de coco, cebola, malagueta, limão e coentros, inspirada uma vez mais neste molho da Heidi Swanson.



a ouvir: Where did all the love go? - Kasabian

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