7.1.13

Duas semanas e picos e um bolo de gengibre


Passei. Pequeno-almoço de pré-encartada. Comei um grande doce e passai.
Estes poderiam ser hipotéticos título e legendas para esta fotografia. Mas não são. A sua legenda na verdade vai algo assim: "Como começar o dia da melhor maneira para o continuar num íngreme e acelerado declive" ou "Pequeno-almoço da quase condutora que não o é porque depois de uma prova quase excelente decidiu meter-se numa via em contra-mão". Algo assim.
Já passou. Excepto que o que me fez cometer o erro é o que mais me assusta. Quando no meio de alguma sincera e profunda concentração algum canal do meu cérebro entope e por momentos os sentidos desligam-se da percepção, algo entre a cegueira mental e uma amnésia micro-temporal que elimina a capacidade de raciocínio da minha mente, sendo preciso um trabalho de esforço brutal para que isso não aconteça. Não me lembro desde quando o tenho, mas já há tempo suficiente para o recear desde o primeiro dia que pus as mãos no voltante. Inconscientemente, porque nunca o racionalizei, mas sempre o senti.
Mas já passou. Para todos os males, gozar comigo mesma ajuda sempre, é o que me vale. E dormir também. E neste caso específico, ter uma mãe que passou à 2ª e um pai que só passou à terceira também torna o processo menos difícil. Obrigada...(?)

Festas e coisas.
O 12? Uma das pista, da caça ao tesouro que "ofereci" à familia, enfiada na lombada descozida da velha e resistente enciclopédia portuguesa de lá de casa. Caça essa que nos salvou do mal da enganosamente bem afamada noite, que de especial não tem muito para ninguém, sendo que manifestações de desagrado só pela calada. 20 pistas passando por códigos de números de telefone, manifestos nas "boas concelheiras",  fazer o que o Jorge Palma pede, pedir ajuda ao Gandhi e carregar no play, terminando num pedido com jeitinho e um beijinho. Salvei-nos e foi muito divertido.



Depois recebi mimos. E comecei a fazer um cachecol verde.



Fiz 80 azevias. O Senhor Tempero fechou e ainda me dá um aperto no coração de pensar nisso.
Mas vai passar.
Uma passagem de ano prevista a ser passada em casa a bocejar à espera da meia-noite transformou-se na melhor até à data. Venham mais. Não as passagens, a diversão e boa companhia.




E este bolo é ou se gosta mesmo muito, ou não se gosta mesmo nada. Em tudo é intenso, em nada contido. Textura intensa, sabor intenso, cheiro intenso, cor intensa. Dá vontade de usar linguagem de descrição de perfumes para o descrever: "uma fragrância tal, voluptuosa e irresistível, com umas notas de cabeça frescas, passando para umas notas de coração de um crescendo picante e aromático chegando a umas notas de fundo quentes, escuras, prometendo uma cumplicidade íntima total entre si os demais presentes à volta da mesa."

Quem não gosta de gengibre, come bolo-rei.



Bolo de gengibre e cerveja preta
adaptado de Gourmets Amadores

Para quem não é fã de sabores muito intensos este bolo não é sem dúvida uma boa opção. A mistura de especiarias grita Natal e perderia metade da piada se não fosse assim. Também seria interessante ver o efeito de um pouco de raspa ou sumo de laranja misturado na massa, são sabores que ligam naturalmente bem com as especiarias e por isso deve valer a pena experimentar. A textura é húmida mas bem consistente, a lembrar remotamente a textura de uma tigelada, talvez pela pouca quantidade de farinha e da utilização da cerveja e de tantos ingredientes líquidos. Hei-de pesquisar.
A receita original diz o bolo pode ser feito com uma semana de antecedência e guardado numa caixa, coberto com papel vegetal e película aderente. Eu guardei duas e também ficou muito bom. Mas bem guardadinho.

200ml cerveja preta
125g manteiga
225g golden syrup
165g açúcar integral (rapadura)
1 1/2 c.chá de gengibre em pó
1 1/2 c.chá de canela
1/4 c.chá de cravinho, moído
1/4 c.chá de anis estrelado, moído
225g farinha
1 e 1/2 c.chá de bicarbonato de sódio
200ml de natas magras
2 ovos

Pré-aquecer o forno a 170ºC. Forrar o fundo de um tabuleiro de 20x30cm ou de área semelhante com papel vegetal e pincelar com manteiga.
Colocar o açúcar, a cerveja, o golden syrup, a manteiga e as especiarias num tacho em lume brando até todos os ingredientes estarem derretidos.
Numa tigela grande, peneirar a farinha e o bicarbonato de sódio.
Retirar a mistura de açúcar do lume e mexendo com uma vara de arames, verter sobre a farinha.
Bater bem até obter uma mistura homogénea e lisa.
Misture as natas com os ovos, bater ligeiramente e adicionar à mistura anterior. Envolver totalmente e verter a massa no tabuleiro.
Levar ao forno 45 minutos ou até estar cozido. Deixar arrefecer completamente antes de cortar em quadrados. Servir com uma bola de gelado de baunilha, polvilhado com açúcar em pó só mesmo para ficar quase tão bonito quanto sabe.

faz 10 generosas fatias, 12 bem-comportadas.


a ouvir: Skin - Grimes

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