14.3.13

U R G E

Tudo me urge. E eu só me lembro de Eugénio de Andrade: "É urgente... é urgente...". Urge o que deve e o que não deve e eu como personagem de BD, várias cabeças num só corpo, viradas para todas as direcções e pequenas linhas curvas horizontais simulando movimento.
Urgem as ideias que ainda não consegui que deixassem de o ser para passarem a ser algo mais, mas urgem-me também os limões disformes de um quintal das traseiras do parque, para que corra a casa buscar a máquina e registe a beleza dos seus jeitos singulares e eles com a luz brilhante do céu acabadinho de ser chovido.
Urge a vontade de compreender o que não compreendo e de dar sentido ao que compreendo mas que não cabe na minha cabeça. Urge o que quero e o que não sei se quero e o que não quero mas que tem de ser (acho eu!) e a vontade de no fim de tudo não querer absolutamente nada! Urgem os livros que comprei e que quero ler e cozinhar leeeeeenta e deliiciosamente mas que mal os consegui tirar da estante. URGEM AS LETRAS QUE SE QUEREM DELONGADAS Urge o pó acumulado a roupa na cadeira as ervas necessitadas a banheira abandonada as pernas necessitadas o ombro sofrido o Sol desesperado os filmes não vistos o croissant de chocolate da avenida dos Bons Amigos as oportunidades desenfreadas

Basta Pum Basta!



E no meio disto tudo urge-me a mente para a necessidade de compreender que nem tudo o que urge é verdadeiramente urgente.

Entre a razão e a realidade estou eu: meio corpo, coisa física, magra, metro e setenta fazendo-se sempre bem vestida contente e absolutamente sedenta de vida, cabeça a fervilhar de ideias, vidas e instantes e do que há para vir; meio alma, coisa disforme, virtual que urge por conseguir encontrar um ponto.
Um ponto...

Como uma vista panorâmica de tudo o que está cá fora e, placida e tranquilamente, decidir onde e quando vou, sabendo apenas que chegarei lá e que por isso irei sem pressas, com o tempo que for preciso.


P.S. demorei quatro dias a conseguir fazer este post.


E agora uma pausa para aprender. Este livro não é um livro de receitas. É um tratado sobre a gastronomia, and therefore, cultura israelita.
Traduzido e tudo.





Em Jerusalem, tão famoso como o peixe gelfite (http://pt.wikipedia.org/wiki/Gefilte_fish) é o chraimeh, a "rainha" de todos os pratos dos Judeus Tripolitanos (Libios). Para muitos Sefarditas, tal como o seu semelhante (o gelfite) dos Asquenazes, é uma presença obrigatória na altura do Rosh Hashanah, na Páscoa e no Shabbat. Apesar das suas diferenças - o gelfite é bege e doce, o chraimeh é vermelho, picante e de intenso sabor a especiarias - são semelhantes num elemento essencial. Em ambos os pratos o sabor do peixe é, na verdade, irrelevante, sendo apenas um mero veículo para os sabores do molho ou condimento, sejam eles suaves, fortes ou picantes. As familias tem orgulho na sua receita particular de chraimeh. Representa as verdadeiras habilidades da cozinha Tripolitana - e, com variações do tema, de outras cozinhas norte-africanas - evidentes na textura do molho, na sua cor, gosto picante e potência.

Claudia Roden fala dos Judeus de Livorno, Itália, e de um prato tradicional de um peixe inteiro cozinhado num molho doce de tomate. Os Marranos, Judeus descendentes de Portugal e Espanha que chegaram a Itália no séc. XVII, estão entre os primeiros que introduziram os tomates em Itália e, tal como muitos mercadores Judeus de Livorno que se mantiveram presentes ao longo do Mediterrâneo, de Tripoli incluidos, é mais do que provável que estas tradições culinárias tenham viajado com eles.

O chraimeh é geralmente feito com postas de Olho-de-boi, com espinha, mas pode ser preparado com qualquer tipo de peixe branco. Escolhemos o salmão porque é o peixe mais disponível em formato de posta. Robalo em posta é o ideal. Peixe branco, sem espinha, é outro compromisso aceitável.

O chraimeh é servido como entrada, morno ou a temperatura ambiente, com challa (ou outro pão branco de qualidade) para ensopar, uma fatia de limão e uma caneca de água, para amainar o calor. É facilmente re-aquecido e o molho é tão saboroso que pode duplicar perfeitamente a quantidade para ter mais molho para mergulhar o pão*. Servir com couscous ou arroz.


*façam-no, eu arrependi-me de não o ter feito.




Postas de salmão em molho chraimeh

110ml de óleo de girassol (2 c.sopa + 2 c.sopa + 50ml)
3 c.sopa de farinha simples
4 postas de salmão, cerca de 1kg
6 dentes de alho, grosseiramente picados
2 c.chá de pimentão doce
1 c.sopa de sementes de alcaravia, tostadas e moídas de fresco (se não tiverem substituam por cominhos)
1 1/2 c.copa de cominhos moídos (eu tosto e depois moo)
1/3 c.chá de pimenta caiena
1/3 c.chá de canela em pó
1 chilli verde, grosseiramente picado (utilisei 1 c.chá de pasta de bird's eye chilli)
150ml de água
3 c.sopa de polpa de tomate
2 c.chá de açúcar
1 limão, cortado em 4 + 2 c.sopa de sumo de limão
2 c.sopa de coentros, grosseiramente picados
sal e pimenta preta

pão fresco e fofo, em generosa quantidade
1/2 cháv. de arroz carolino

Aquecer 2 colheres de sopa de óleo de girassol numa frigideira grande que tenha tampa.
Colocar a farinha numa tigela funda, temperar generosamente com sal e pimenta e colocar dentro o peixe. Envolvê-lo com a farinha e sacudir o excesso. Levar à frigideira quente a lume alto durante 1-2 minutos em cada lado, até ficarem dourados. Remover o peixe e limpar a frigideira com papel de cozinha.
Colocar o alho, as especiarias, a malagueta e 2 colheres de sopa de óleo numa picadora / processador / copo de varinha mágica e moer tudo até formar uma pasta grossa, adicionando um pouco mais de óleo se for necessário para ligar tudo.
Colocar o restante óleo na frigideira, aquecer bem e adicionar a pasta. Mexer e fritar apenas cerca de 30 segundos, para que as especiarias não queimem. Rapida mas cuidadosamente, porque pode espirrar, adicionar a água e a polpa de tomate para que as especiarias parem de cozer. Levantar fervura e adicionar o açúcar, o sumo de limão, 3/4 de colher de chá de sal e um pouco de pimenta. Provar para ajustar o tempero.
Colocar o peixe no molho, levantar fervura lentamente, tapar a frigideira e cozinhar cerca de 7-11 minutos, dependendo do tamanho do peixe, até que esteja totalmente cozido. Retirar do lume, destapar e deixar arrefecer um pouco.
Servir o peixe apenas morno ou a temperatura ambiente, polvilhado com os coentros e uma fatia de limão.

serve 4





































a ouvir: Paradise Circus - Massive Attack


2 comentários:

  1. Sao Posts como este que gostaria de encontrar mais nos blogs, que me deixam a reflectir, com água na boca e ainda me dao o "brinde" de poder ver simpl^es e boas imagens. Mas acima de tudo por nao estar tao perto, ao ler os teus posts mato um bocadinho as saudades...

    By the way acho que vou comecar definitivamente a reproduzir estas receitas, porque isto de comer filetes ou salmao com arroz, bife de frango com massa, falafel ou comida tailandesa ja comeca a cansar ahaha(apesar que nao deixarem de ser bons x))

    Continua cat, quanto mais leio os teus posts mais quero ler:)

    ***

    Ana P.

    p.s. teclado do trab nao tem "c" de cedilha!

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