Agarramo-nos a ideias para fundamentar a nossa fé e adquirimos e criamos incessantemente momentos, objectos, memórias, coisas que nos dão a sensação de pertença, de certeza e de eternidade. É o peso que nisso colocamos que dá substância à nossa vida. Mas ao contrário de quando criamos essa verdade, não controlamos a sua permanência e, enquanto continuamos agarrados à ideia dessa verdade, ela lentamente desaparece para dar lugar a outra coisa.
E ficamos ali, sós, sem aquela pertença ou certeza ou eternidade. E o chão cai. Ficamos com o objecto e a ideia na mão, como uma chávena partida que já não dá para reparar, mas que não queremos deitar fora porque é linda demais, porque é dele, ou porque foi daquele momento, porque pertence a um lugar. Porque nos pertence e não queremos aceitar que dela já não bebemos mais.
Resta olhar para todas as outras que temos no armário e ver como são lindas essa que se partiu. Resta acima de tudo aproveitá-las e enchê-las com um belo chá, ou café, ou leite, estar grato por haver chávenas e por haver com que enchê-las. Resta arranjar mais.
E haverá sempre a manhã seguinte para delas beber.
Requeijão com mel, amêndoas tostadas e romã.
a ouvir: Changes - Seu Jorge
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